Começo a gostar das coisas que este senhor escreve :)
"Comer gajas"
Se
há expressão portuguesa que me intriga é: "ando a comer uma gaja". É
muito usada pelos homens portugueses, mas causa-me perplexidade pois
dá-me sempre a sensação que a gaja que eles andam a comer é uma espécie
de natureza morta, uma espécie de bife que se come ao almoço, ou perna
de presunto a quem se vai cortando uma fatia quando dá vontade. É como
se a mulher - a gaja - não tivesse vida, fosse um ser passivo, um animal
morto que se limitasse a ser comido sem mexer sequer uma pálpebra.
Quando um homem diz "ando a comer aquela gaja", é claro que isso é dito
com orgulho, soa a vitória épica, mas a expressão coloca toda a
movimentação sexual na parte do homem, é ele o activo e ela não passa do
elemento passivo. É como se ele andasse a comer uma morta, e não um ser
vivo, com capacidade para várias coisas, para ser comido mas obviamente
também para comer. Quando um homem "come uma gaja" ele está também e ao
mesmo tempo "a ser comido por ela", a refeição é mútua e não
unilateral. Não faz qualquer sentido tratar as mulheres que se acabou de
comer como inertes e frios camarões a quem se chupou a cabeça, ou
pastéis de nata cobertos de canela que se enfiaram pela goela abaixo. É
certo que há algo de animalesco no sexo, mas caramba neste caso os
animais estão vivos e para grande felicidade e sorte nossa, também nos
comem de volta! Em certos casos, a mulher pode tratar-se de uma
coelhinha, muito dada ao sexo, ou de uma cabrita que dá pinotes. Noutros
poderá tratar-se de uma loba que urra, de uma vaca que nos trata mal,
ou de uma porca que faz de tudo com um sorriso nos lábios. Mas está
sempre viva e não morta. Portanto, os homens devem rapidamente
substituir a expressão "ando a comer uma gaja" pela expressão "aquela
gaja e eu andamo-nos a comer que nem uns desalmados". É mais preciso, e
também mais cavalheiresco.
Domingos Amaral
retirado daqui
já não estou nesse tempo já passei essa fase em que ouvia isso :)
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